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Beowulf



Beowulf (Editorial Presença, 2007, 383 páginas), foi escrito por Caitlín R. Kiernan, autora de ficção científica e obras de fantasia sombria, que se baseou no conto de Beowulf e no guião do filme escrito por Neil Gaiman e Roger Avary.

Beowulf é o mais longo poema épico tradicional, apresentando 3.183 linhas, escrito por um autor desconhecido na língua anglo-saxã ou inglês-arcaico. O poema não está intitulado, mas é conhecido como Beowulf desde o início do século XIX. Os eventos que ele relata se passam no que agora é a Dinamarca por volta do ano 500.

De acordo com o poema um monstro chamado Grendel, tem aterrorizado o reino da Dinamarca por 12 anos. Um grande guerreiro chamado Beowulf jura matar Grendel. Ele e 14 homens navegam de seus lares no sul da Suécia, em Geatland para a Dinamarca, onde Beowulf mata o monstro e sua horrível mãe. Ele recebe presentes e honrarias do rei Dinamarquês e volta para casa, onde reina por 50 anos. 
Quando um dragão assola seu reino, Beowulf procura o monstro e o mata, mas ele também é mortalmente ferido. Após sua morte ele é lembrado por seu povo como o mais gentil dos reis e o mais ávido pela fama.
No livro de Kiernan, o monstro Grendel também aterroriza a Dinamarca. Grendel é filho de um demônio e do rei Hrothgar. Beowulf fere o monstro, e no leito de morte de Grendel sua mãe jura vingança. Após a mãe de Grendel ter cometido um massacre no salão de festas do reino, Beowulf decide ir atrás dela para matá-la.

Ao chegar até ela, Beowulf é seduzido, então a mãe de Grendel lhe propõe um acordo que é aceito por ele: dar-lhe um filho e ela lhe daria força, saúde e vida e o tornaria rei. Anos depois, o filho de Beowulf e da mãe de Grendel, assola a Dinamarca que agora tem como rei Beowulf. Ao derrotar o dragão, Beowulf morre.

Não vou jogar a culpa toda, do livro não ter sido bom, em Kiernam. Até porque, como relatei no início do texto ela usou o roteiro do filme para escrever o livro. Mas posso dizer que a autora foi do sublime ao ridículo, por que transformou o mais importante texto da língua inglesa em um livro fraco, que a meu ver pode ser classificado como uma enorme oportunidade perdida.

Admito que, por mais que o poema Beowulf, tenha suas virtudes históricas e literárias, não é uma história que possa colocar um livro ao nível de best-seller, devido à essência mítica do poema. O personagem é unidirecional, o herói envelhece e morre. A grandeza do poema está na sua linguagem (o inglês arcaico é muito difícil e estranho), não na história.

Mas, fiquei decepcionada ao ver a mãe do Grendel transformada em uma ninfomaníaca e por fazerem Beowulf sucumbir aos seus charmes malignos. Kiernam não falha por ter alterado a história (o roteiro não é dela), falha porque estava tão preocupada em embelezar a história, que se esqueceu de criar um universo mítico.      

J.R.R. Tolkien, o autor que criou o universo mítico mais poderoso de nosso tempo, também era um renomado estudioso de Beowulf. O Senhor dos Anéis foi profundamente influenciado por este poema. Em uma famosa alegoria, Tolkien compara o autor de Beowulf com um homem que, herdando um campo cheio de pedras antigas, as usa para construir uma torre. Seus amigos, reconhecendo que as pedras pertenceram a uma construção mais antiga, destruíram a torre “para olhar as gravações escondidas e inscrições”. O que eles não perceberam, termina Tolkien, era que “do topo daquela torre o homem foi capaz de olhar o mar”.

Caitlín R. Kiernan ao escrever Beowulf, contudo, falhou em reconhecer até mesmo que o épico é composto de pedras antigas ou que aquelas pedras poderiam ter algo a nos dizer hoje em dia. Ela reescreveu o passado, mas ela esqueceu algo que é muito mais importante: poesia. A essência de Beowulf, ou qualquer poema, não pode ser invocada apenas pelo ato de incrementar a história. Ela deve ser imaginada.  

Nathaly Monteiro



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