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Não Há Silêncio Que Não Termine


Não Há Silêncio Que Não Termine (Companhia da Letras, 2010, 553 páginas) livro escrito por Ingrid Betancourt, senadora e ativista anticorrupção franco-colombiana, que conta os acontecimentos quando do seu rapto pelo grupo guerrilheiro FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo), em fevereiro de 2002. As FARC-EP é uma organização de inspiração comunista, autoproclamada guerrilha revolucionária maxista-leninista, consideradas terroristas pelo governo da Colômbia, Estados Unidos, Canadá e pela União Européia.

Filha de uma tradicional família colombiana, educada na Europa, Ingrid Betancourt resolveu abandonar a segurança de uma vida confortável para dedicar-se aos problemas de seu conturbado país. Elegendo-se sucessivamente deputada e senadora, Ingrid fundou em 1998 o partido Oxigênio Verde, com o objetivo de trazer novas esperanças à política colombiana, marcada pela violência correligionária e pela corrupção.
Interessada em promover o diálogo entre as diversas facções da guerra civil que há décadas dilacera a Colômbia, a jovem senadora resolveu em 2001 lançar sua candidatura às eleições presidenciais. No ano seguinte, durante uma viagem de campanha ao único município governado por um prefeito de seu partido, a candidata (então mal colocada nas pesquisas) foi sequestrada por um comando das Farc, junto com diversos assessores e seguranças, num episódio até hoje mal explicado. 

Livro com ótima narrativa, livre de maniqueísmo e proselitismo eleitorais, não traz novidades quanto aos fatos, mas traz o testemunho de quem viveu o inferno na pele e a análise dos acontecimentos sob a perspectiva da vítima, o livro passa muito longe de ser o espelho de revolta de uma ex-prisioneira.

Conduzida em uma narrativa magistral, que introduz o leitor na mata cerrada, entre os igarapés e os grandes rios da Amazônia colombiana. A selva de Ingrid dá medo na mesma proporção em que suas angústias comovem e revoltam.

Durante 2.323 dias, Ingrid Betancourt foi amarrada em troncos de árvores por correntes presas ao pescoço; se viu forçada a marchar debaixo de tempestades tropicais até os pés esfolarem; foi obrigada a fazer suas necessidades fisiológicas diante de homens que zombavam dela e não a chamavam pelo nome, mas apenas de cucha (velha) e que se referiam aos prisioneiros como pacote, encomenda ou a carga.

Apesar da ausência quase absoluta de comentários políticos por parte da autora, conhecer a guerrilha colombiana por meio de quem esteve tão perto dela durante tanto tempo, levou-me a pensar sobre o tamanho do equívoco das Farc. Seus métodos, sua violência, sua proximidade com o narcotráfico parecem ser mais úteis à direita sul-americana do que realmente aos camponeses e operários urbanos, em nome de manter para si um padrão social semelhante ao da burguesia que diz combater.

OBSERVAÇÃO: Uma produtora de cinema, a The Kennedy/Marshall, comprou os direitos autorais de Não há silêncio que não termine, cujo título foi retirado de um verso de Pablo Neruda e o roteiro do filme baseado nos relatos de Ingrid está sendo adaptado.

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